Identidade Cervejeira Nacional II

Continuando meu primeiro post sobre identidade nacional, resolvi pesquisar um pouco mais sobre o tema, que para mim soa mais como um desabafo do que como algo realmente elaborado. A partir de contribuições e outras discussões que observei por aí, vou dar mais uns pitacos.

Mais frutinhas?

Parafraseando nosso querido Samuel (Bodebrown), será é só mais um pouco de frutinhas? Ou como diria o Guilherme (Gastrobirra):

Mas, como pode ser considerado novo aquilo que há milhões de anos os cervejeiros já utilizavam, como cascas de árvores, especiarias e frutas? O que há de realmente novo nisso? Aparentemente, nada. Mas souberam fazê-lo com criatividade e com o melhor modo de usar tais elementos.

Claro, quem saiba o mais relevente que estejamos discutindo aqui não seja a falta de identidade, mas sim a leveza e clareza das idéias de nossos cervejeiros: são, antes que cervejas brasileiras, cervejas de qualidade, feitas da melhor forma, sem defeitos gritantes, de acordo com alguma referência – BJCP, Brewers Association – e que agregue características relevantes. Não importa muito aqui se é do Nordeste, do Sul, nem mesmo se for de Fernando de Noronha, o que importa é a capacidade de circular entre o que existe e como isso pode ficar. O Roberto Fonseca (Blog do B.O.B) trouxe a opinião do Botto, que achei bem sintética e direta:

“O conceito de escola demanda história, tradição, cultura, repetição, métodos e ingredientes”.

Dentre estes principais conceitos propostos pelo Botto, o que temos de relevante? Poderia escrever sobre cada um destes aspectos, mas seria parcial mesmo. Vou me focar no que considero mais relevante: ingredientes.

Ingredientes interessantes

No Brasil temos uma diversidade de ingredientes interessantes, sintetizados principalmente na gastronomia nacional. Bem lembrado pelo Sr. Gastrobirra, o Alex Atala, junto com Claude Toigroiss e tantos outros europeus–brasileiros expõe na cozinha nacional e internacional as multifacetas brazucas. Entre elas, acho muito interessante para conhecer  o Tartare de Atum e pepinos crocantes com Tapioca-caviar do Claude Toigros; todo o tipo de coisa que é feita no D.O.M, como o cardápio vegetariano exposto pela Alessandra Blanco (Comidinhas), ou ainda os pratos maravilhos do Dalva e Dito vistos pelo pessoal da IstoÉ Gente. O que todos tem em comum: os ingredientes inusitados, tupiniquins, à sua boa e bel vontade.Vinagreira

O vício pragmático me faz ir direto ao que quero falar: e aí, vamos botar ingredientes realmente brazucas nas nossas cervejas? Mando uma série de coisas inusitadas:

  • Vinagreira: folha escura e suculenta típica do Maranhão, de sabor levemente azedo (utilizada como uma das ervas do arroz de cuxá).
  • Urucum: utilizado como corante, com a vantagem de não ter praticamentesabor. É usado na forma de pó, triturado.
  • Coentro do paráChicória-do-pará: erva que lembra o coentro tailandês, também chamado de cheiro-verde paraense.
  • Quitoco: planta aromática semelhante ao manjericão. É usada também como erva medicinal.
  • Pequi: é uma fruta do Cerrado, é usado na culinária para arroz, peixe, etc.
  • Manteiga de garrafa: é obtida a partir da fervura do creme de leite até qeu restem apenas gordura e partículas sólidas do leite.

Das pimentas, tão bem usadas em várias cervejas como a Eisenbahn Dubbel San Sebá, e que usamos também em um Wit já. Mas o que trago aqui é um pouco além, com variedades efeticamente nacionais.

  • Pimentas-de-cheiroPimentas-de-cheiro: possuem diversas variedades e níveis de picante,distribuídas entre sudeste, nordeste e sul. Normalmente amarelada e arredondada.
  • Pimenta malagueta: é encontrada no Brasil em cinco variedades silvestres, é muito utilizada para condimentos, na forma de molhos, além do consumo in natura. Possui variedades vermelhas e verdes, de formato alongado.
  • Pimenta CumariPimenta comari: do Pará, tem formato esférico e cor vermelho-escuro. É bastante picante.

Poderia ter falado de n outros ingredientes, mas procurei tratar apenas daqueles que julgo efetivamente brasileiros. Principalmente porque daí vem minhas perguntas: porque não produzir uma lambic com sumo de vinagreira? Ou alguma cerveja belga com pimenta brasileira?  Ou ainda uma boa Stout com um toque de manteiga de garrafa, cumprindo a ação de um pouco de diacetil?

As perguntas que tenho são mil, porque, me focando apenas em um aspecto do produto cerveja, já vejo um horizonte  muito grande. Isso que nem foquei na mimesis brasileira, característica de nossa cultura de reaproveitar e ressignificar tudo em nossa cultura.

E então, vamos aperfeiçoar essa lista? Esse é meu desafio nesta semana, buscar aperfeiçoar essa lista muito mais! Quero me focar nesta extensão e na mimesis brasileira, que vem da culinária e acho que invadirá nosso mundo cervejeiro.

Abraços e ótima semana!

Cheers!

Fontes
http://gastrobirra.wordpress.com/2011/06/30/alma-brasileira/
http://paragrafo11.com/2011/05/25/debate-sobre-a-identidade-da-cerveja-brasileira-beleza-interior-e-exterior/
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos+paladar,a-busca-do-dna-proprio,4523,0.shtm
http://www.mestre-cervejeiro.com/artigos/a-identidade-brasileira-na-cerveja.html
http://veja.abril.com.br/250707/p_115.shtml

Imagens
Vinagreira, Chicória do pará, Quitoco, Pimenta de cheiro, Pimenta comari.

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3 Responses to “Identidade Cervejeira Nacional II”

  1. Marco Zimmermann
    July 20, 2011 at 15:57 #

    Já dei minha opinião uma vez sobre isto, uma escola cervejeira não nasce deliberadamente, é algo que quando nos dermos conta já existe. Não é uma criação artificial.
    Acho que no futuro talvez consigamos identificar a escola brasileira, mas antevê-la ou até mesmo criá-la não faz sentido.
    E temos um agravante, as principais escolas cervejeiras possuem ingredientes cervejeiros locais com características próprias, principalmente no que dá mais identidade às cervejas, os fermentos e os lúpulos, o que não temos no Brasil.
    Misturar fruta na cerveja pode ser feito em qualquer país e não é isto que vai criar uma escola nacional.

    Abraços!

    Marco

    • July 20, 2011 at 16:18 #

      Claro, Marco. Mas é o conjunto de características, e diria mais, de iniciativas, que vai gerar possíveis caminhos que identifiquem cervejarias e suas regiões. Acho que alguns ingredientes podem ajudar, mas é claro que não são suficientes. Vamos torcer e lutar para que tudo isso que fazemos, como cervejeiros, surta efeito. E obrigadão pelo comentário!

      Abraços!

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